domingo, 26 de agosto de 2012

A Falsa Mendiga

 Zezélia pedia esmolas, havia muitos anos.
 
Não era tão doente que não pudesse trabalhar, produzindo algo de útil, mas não se animava a enfrentar qualquer disciplina de serviço.
 
- Esmola pelo amor de Deus! - clamava o dia inteiro, dirigindo-se aos transeuntes, sentada à porta de imundo telheiro.
 
De quando em quando, pessoas amigas, depois de lhe darem um niquel, aconselhavam:
- Zezélia, você não poderia plantar algum milho?  
- Não posso... - respondia logo.
 
- Zezélia, quem sabe poderia você beneficiar alguns quilos de café?
 
- Quem sou eu, meu filho? não tenho forças...
 
- Não desejaria lavar roupa e ganhar algum dinheiro? - indagavam damas bondosas.
 
- Nem pensar nisto. Não agüento...
 
- Zezélia, vamos vender flores! - convidavam algumas jovens que se compadeciam dela.
 
- Não posso andar, minhas filhas!... - exclamava, suspirando.
 
- E o bordado, Zezélia? - interrogava a vizinha, prestativa - você tem as mãos livres. A agulha é uma boa companheira. Quem sabe poderá ajudar-nos? Receberá compensadora remuneração.
 
- Não tenho os dedos seguros - informava, teimosa - e falta-me suficiente energia... Não posso, minha senhora...
 
E, assim, Zezélia vivia prostrada, sem ânimo, sem alegria.
 
Afirmava sentir dores por toda parte do corpo. Dava noticias da tosse, da tonteira e do resfriado com longas palavras que raras pessoas dispunham de tempo para ouvir. Além das lamentações contínuas, clamava que não bebia café por falta de açúcar, que não almoçara por não dispor de alimentação.
 
Tanto pediu, chorou e se queixou Zezélia que, em certa manhã, foi encontrada morta e a caridade pública enterrou-lhe o corpo com muita piedade.
Todos os vizinhos e conhecidos julgaram que a alma de Zezélia fora diretamente para o Céu; entretanto, não foi assim.
 
Ela acordou em meio dum campo muito escuro e muito frio.
 
Achava-se sem ninguém e gritou, aflita, pelo socorro de Deus.
 
Depois de muito tempo, um anjo apareceu e disse-lhe, bondoso:
- Zezélia, que deseja você?
 
- Ah! - observou, muito vaidosa - já sou conhecida na Casa Celestial?.
 
- Há muito tempo - informou o emissário, compadecido.
 
A velha começou a chorar e rogou em pranto:
- Tenho sofrido muito!... quero o amparo do Alto!...
 
- Mas, ouça! - esclareceu o mensageiro o auxílio divino é para quem trabalha. Quem não planta, nada tem a colher. Você não cavou a terra, não cuidou de plantas, não ajudou os animais, não fiou o algodão, não teceu fios, não costurou o pano, não amparou crianças, não fez pão, não lavou roupa, não varreu a casa, não cuidou de flores, não tratou nem mesmo de sua saúde e de seu corpo...
 
Como pretende receber as bênçãos de Cima?
 
A infeliz observou, então:
- Nada podia fazer... eu era mendiga...
 
O anjo, contudo, replicou:  
- Não, Zezélia! - você não era mendiga. Você foi simplesmente preguiçosa. Quando aprender a trabalhar, chame por nós e receberá o socorro celeste.
 
Cerrou-se-lhe aos olhos o horizonte de luz e, às escuras, Zezélia voltou para a Terra, a fim de renovar-se.

 Neio Lúcio


quinta-feira, 16 de agosto de 2012

As Três Peneiras

                                  Um rapaz procurou Sócrates e disse-lhe que precisava contar-lhe algo 
sobre alguém.

        Sócrates ergueu os olhos do livro que estava lendo e perguntou:

        - O que você vai me contar já passou pelas três peneiras?

        - Três peneiras?  - indagou o rapaz.

        - Sim ! A primeira peneira é a VERDADE. O que você quer me contar dos outros é um fato? Caso tenha ouvido falar, a coisa deve morrer aqui mesmo. Suponhamos que seja verdade. Deve, então, passar pela segunda peneira: a BONDADE. O que você vai contar é uma coisa boa? 
Ajuda a construir ou destruir o caminho, a fama do próximo? 
Se o que você quer contar é verdade e é coisa boa, deverá passar ainda pela terceira peneira: a NECESSIDADE. Convém contar? 
 Resolve alguma coisa? Ajuda a comunidade? Pode melhorar o planeta?
        
       Arremata Sócrates:
        - Se passou pelas três peneiras, conte !!! Tanto eu, como você e seu irmão iremos nos beneficiar.
Caso contrário, esqueça e enterre tudo. Será uma fofoca a menos para envenenar o ambiente e fomentar a discórdia entre irmãos, colegas do planeta.

Autor Sócrates.